segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Parto normal ou cesárea?

JORGE FRANCISCO KUHN DOS SANTOS*
Atualmente no Brasil, muitas mulheres grávidas têm sido submetidas ao que é conhecido como "desneCesárea".

O PARTO , além de ser um ato fisiológico, é também um evento familiar, pessoal e sagrado e, em mais de 80% dos casos, não deveria ser um ato médico.

A cesárea, indicada em 10% a 15% dos casos, como recomenda a OMS (Organização Mundial da Saúde), é uma cirurgia de grande porte e maior risco. Sendo assim, somente deveria ser realizada no intuito de salvar a vida da mãe e/ou do bebê ou de evitar risco de dano à integridade da unidade mãe-bebê.

Os índices de cesárea no país e no mundo vêm crescendo, é verdade, na maioria das vezes por razões de conveniência do médico ou da mulher. Dessa forma, devemos aplaudir todas as tentativas de normalizar a situação e incentivar o parto normal, como aquela recentemente tomada pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).

A iniciativa da Anvisa traz um conjunto de medidas como o direito da parturiente de escolher o acompanhante durante o trabalho de parto e o pós-parto imediato e a liberdade de escolha quanto à posição em que dará à luz, entre outras.

Ainda há outras medidas de incentivo ao parto normal, como o são a construção de mais casas de parto -não só para as mulheres menos favorecidas- e a criação de mais cursos formadores de boas parteiras e enfermeiras obstetras.

Quais seriam, então, as situações em que o médico tem, necessariamente, de optar pela cesárea em detrimento do parto normal? Embora em alguns casos essa decisão possa ser tomada com antecedência, ainda durante o pré-natal -como nos casos de placenta prévia centro-total-, na grande maioria das vezes ela só pode ser tomada durante o trabalho de parto, como no herpes genital ativo.

Neste ponto, é importante destacar que situações como falta de dilatação do colo uterino antes do trabalho de parto efetivo, cesárea prévia, bacia estreita, bebê grande e gestação gemelar não são razões para a realização de uma cesárea.

Caso a cesárea seja de fato necessária, aí, sim -mas somente aí-, ela estaria indicada, e não da forma que vem acontecendo atualmente no Brasil, mormente no serviço privado, em que 80% a 90% das grávidas têm sido submetidas, na imensa maioria dos casos, ao que é conhecido como uma "desneCesárea".

A mulher deve ser incentivada a exercer o protagonismo ativo no processo de dar à luz. A mãe, plenamente informada sobre a evolução de um parto ainda durante as consultas pré-natal, terá ampla participação durante o processo e condições de tomar decisões compartilhadas com o profissional de saúde.

A palavra do médico, sua experiência cotidiana e a bagagem de conhecimento científico que carrega valem muito, evidentemente. Contudo, há toda uma exaustiva literatura científica que aponta ser a parteira a melhor profissional para acompanhar um parto normal numa gestante de baixo risco.

Ao médico caberia o atendimento dos 10% a 15% dos casos em que estaria verdadeiramente justificada a operação cesariana e dos 5% dos casos em que seriam necessárias intervenções, tais como o fórcipe e a vácuo-extração. Humanização? Sim! Não humanização do parto, pois este já é um evento humano e nós, profissionais de saúde, não somos desumanos, mas humanização da assistência ao parto e nascimento, evitando procedimentos muitas vezes ineficazes, danosos e dolorosos.

Para finalizar, é precsio dizer que devemos melhorar também a formação dos médicos, pois estes comumente terminam o período de residência, após a faculdade, com uma visão muito distorcida de um evento natural, o parto.

JORGE FRANCISCO KUHN DOS SANTOS , 54, é professor assistente do departamento de obstetrícia da Unifesp/ EPM (Universidade Federal de São Paulo/Escola Paulista de Medicina), plantonista do Hospital e Maternidade Leonor Mendes de Barros, do SUS. Médico obstetra e ginecologista, acompanha partos há 33 anos.

*Texto publicado em Tendências/Debates do Painel do Leitor da UOL.

4 comentários:

Sonia Regly disse...

Carla,
Excelente post!!!!Muito Bom!!!!Têm uma linda postagem com várias telas de Tarcila, passe por lá.Beijinhos.

Carla Beatriz disse...

Sonia,

O Jorge Kuhn é um grande obstetra e defensor do parto humanizado que atende em São Paulo. Achei o texto tão bom, que resolvi postar no blog, já que para ler a reportagem no UOL, é necessário ser assinante.
Eu estou sempre colocando assuntos sobre o assunto Parto Normal x Cesárea, pois sou apaixonada pelo tema.

Beijos

Anônimo disse...

Mais uma bela matéria que repassarei à minha irmã! Tomara que num futuro próximo os índices de parto por cesárea diminuam ao estritamente necessário.

Beijos, Carla! Boa semana!
Juca

Carla Beatriz disse...

Juca,

Perfeito, quanto mais informação tua irmã tiver, mais subsídios para tomar uma decisão consciente ela terá. :-)

Beijos