sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Mulheres: O Parto é Nosso!


Hoje resolvi tirar o pó de meu blog, que anda bem abandonadinho, coitado, por conta de meu novo trabalho na área de suporte, que me deixa ocupadíssima o dia inteiro e sem vontade de sentar na frente do computador à noite, exceto para assistir meus seriados americanos.


Recebi um artigo pela lista do Parto do Princípio e resolvi compartilhá-lo, apesar dele já ter sido brilhantemente comentado pela Kalu, do Mamíferas. Mas como eu tive meus dois filhos de parto natural, um no hospital e a outra em casa, quis dar minha contribuição, colocando trechos do artigo aqui no blog:


O parto é delas (por Luciana Benatti)



"Abuso de intervenções médicas, falta de informação e de segurança para decidir têm tirado de muitas mulheres o direito ao parto natural. A cesárea, indicada para situações de risco, ainda ocorre de forma indiscriminada no Brasil



Parto na água e sem anestesia? No país campeão mundial de cesarianas, pode parecer coisa de gente maluca. Na verdade, trata-se da escolha consciente de mulheres que, alheias ao apelo do parto “prático, rápido e indolor” prometido pelos defensores da cesárea com hora marcada, decidiram vivenciar o nascimento de seus filhos com a maior naturalidade possível. O que envolve também abrir mão de tecnologias e de intervenções médicas desnecessárias. Se a gestação for de baixo risco, o parto normal é mais seguro para a mãe e para o bebê.



Por ser uma cirurgia, a cesárea só é indicada quando há risco. De acordo com a Organização Mundial da Saúde, isso ocorre em, no máximo, 15% dos casos. No entanto, a cesariana representa 43% dos partos realizados no Brasil, considerando o setor público e o privado. No universo dos planos de saúde chega a 80%, enquanto no Sistema Único de Saúde soma 26%. Todos concordam: o procedimento, quando bem indicado, é capaz de salvar vidas. Por outro lado, se realizado sem uma indicação médica precisa, pode expor a mulher e o recém-nascido a riscos desnecessários. “Quando você agenda uma cesariana sem que a mulher tenha entrado em trabalho de parto, pode estar retirando o bebê antes da sua completa formação”, afirma Andréia Abib, gerente-técnico assistencial de produtos da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), órgão que regula as atividades das operadoras de planos privados. “Uma mulher bem informada jamais iria desejar isso”, acredita Andréia. Como parte de uma campanha em favor do parto normal e da redução das cesarianas desnecessárias, a agência elaborou uma carta de esclarecimento e convidou as operadoras a enviá-la às usuárias. Em maio, o Ministério da Saúde também lançou campanha de incentivo ao parto normal, com um comercial estrelado pela atriz Fernanda Lima, que teve seus gêmeos dessa forma.


De acordo com um estudo recente realizado por pesquisadores da Escola Nacional de Saúde Pública da Fundação Osvaldo Cruz, em duas maternidades particulares do Rio de Janeiro, 92% das cesarianas foram feitas com data e hora marcadas, antes de a mulher entrar em trabalho de parto. “É um escândalo”, critica a epidemiologista Silvana Granado Nogueira da Gama, integrante da equipe.




O mesmo estudo da Fiocruz derruba um argumento muito freqüente, o de que as próprias mulheres brasileiras desejariam o parto cesáreo: 70% das gestantes não manifestaram preferência pela cesariana no início da gravidez, mas quase 90% a fizeram. “Isso indica que há um convencimento durante o pré-natal”, afirma Lena Peres, do Departamento de Ações Estratégicas do Ministério da Saúde.


Cesariana é uma técnica. Parto normal, uma arte”, diz o obstetra Jorge Kuhn, professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). “Muitos médicos se formam sem saber fazer parto normal”, afirma a doula e educadora perinatal Ana Cristina Duarte, coordenadora do Grupo de Apoio à Maternidade Ativa (Gama). A doula é uma acompanhante de parto treinada para oferecer suporte físico, emocional e afetivo."






Para ler o artigo completo, clique aqui.

Eu tive minha filha de parto domiciliar em outubro de 2004 e mesmo quase 5 anos depois, ainda vejo muitas mulheres tendo seus filhos de cesariana, seja ela eletiva ou não. As razões são as mais variadas: cordão enrolado, bebê muito grande, pouco líquido amniótico, falta de contração, falta de dilatação, bacia estreita, cesárea prévia, etc. É uma pena que as mulheres ainda deixem de tomar o evento do parto para si e deixem que os médicos decidam por elas!


Não somos nós que tivemos nossos filhos no aconchego de nosso lar e cercadas de pessoas dando-nos apoio e carinho as loucas e irresponsáveis e sim as mães que escolhem deliberadamente uma cesárea e que se submetem a uma cirurgia para tirar um bebê imaturo (de 38 semanas ou menos) do útero*. Essas sim são as loucas e irresponsáveis.


Quando você agenda uma cesariana sem que a mulher tenha entrado em trabalho de parto, pode estar retirando o bebê antes da sua completa formação”, afirma Andréia Abib, gerente-técnico assistencial de produtos da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), órgão que regula as atividades das operadoras de planos privados. “Uma mulher bem informada jamais iria desejar isso”, acredita Andréia.


O caminho natural é o mais óbvio: deixar a natureza seguir seu curso. Quem vai indicar que está pronto para nascer será seu bebê e é quando irá se iniciar seu trabalho de parto, que pode levar, em média, 12 horas (mas pode demorar mais, especialmente se for seu primeiro filho). O trabalho de parto é uma preparação do corpo para a expulsão do feto do útero e isso faz parte do processo de nascer. O bebê precisa fazer força para sair e encontrar a saída do útero e isso é uma metáfora para a vida: que temos, muitas vezes, fazer força para sair e encontrar nossos caminhos na vida. Tirar isso de um bebê é, no mínimo, muito egoísmo.


* Paráfrase de um trecho do post da Kalu.


Foto: Arquivo pessoal, outubro de 2004, durante meu trabalho de parto domiciliar.


13 comentários:

Vera Falcão disse...

Oi, Carla, já estava com saudades dos teus comentários!
Nunca é demais falar sobre parto natural e a loucura que é fazer uma cirurgia desnecessária!
Então, vc também é viciadinha em assistir séries no PC, na calada da noite? rssssss I love it!
O que vc anda assistindo?

beijos

Cristiane A. Fetter disse...

Carla, que bom saber que você já está trabalho, fico muito feliz viu?
bjks

Carla Beatriz disse...

Oi Vera,

Demorei um pouco, mas estou respondendo tua pergunta: gosto de vários seriados, entre eles os 3 CSI, NCIS, Desperate Housewives, House, Grey's Anatomy, The Big Bang Theory, The Mentalist, etc.

Beijos,

Carla

Carla Beatriz disse...

Oi Cris,

Obrigada, eu também estou muito feliz, pois não foi fácil ficar 5 meses desempregada!

Beijos,

Carla

Max Coutinho disse...

Oi Carla!

É, os médicos hoje em dia abusam das cesarianas mesmo. Para dizer a verdade, às vezes acho que os ginecologistas são inimigos das mulheres (porque a moda agora é abrir a barriga das mulheres e remover útero, ovários tudo...perante a presença de miomas; havendo outras soluções menos invasivas - que estranho).

Adorei este teu artigo, e bem-vinda de volta!!! :D

Beijos

Vanessa disse...

Ola! Sou médica e lembro-me do meu professor de ginecologia a dizer que a causa do elevado número de cesarianas no Brasil é a ganância. No tempo de se fazer um parto normal, um médico faz 10 partos cesáreas. No momento estou a morar em Inglaterra e estou grávida do meu primeiro bebê. Nem passa pela minha cabeça fazer cesariana. Aqui o incentivo é todo ao parto normal e na primeira consulta a parteira (midwife) vem na nossa casa para perguntar se queremos ter o parto em casa. Entretanto, minhas colegas que formaram comigo no Brasil todas até agora tiveram cesarianas. Muito bom ver um blog como o seu que estimula o parto normal.
Felicidades
Ah, leia este post no meu blog: http://psiquiatriaetoxicodependencia.blogspot.com/2009/11/o-parto-como-rito-de-passagem.html

Carla Beatriz disse...

Oi Max,

É verdade, parece que as mulheres são sempre levadas a negar sua feminilidade: não menstruar, tirar útero, fazer cesariana ...

Tenho postado bem menos do que antes, mas tenho vindo de vez em quando no meu blog.

Beijos mil

Carla Beatriz disse...

Vanessa,

Fiquei muito feliz com tua visita a meu blog!
Teu professor de ginecologia está muito certo. Além da ganância, tem a comodidade, para que gastar 12 horas com um parto, se pode fazer várias cesarianas nesse mesmo período? A mulher que se dane!
A Inglaterra é um ótimo lugar para ter um parto normal domiciliar e atendida por midwife. Tomara que vc tenha uma boa experiência.

Adorei o texto postado em teu blog e vou postar também no meu tb, viu? :-)

Eu conheci a Robbie E. Davis-Floyd pessoalmente aqui em Porto Alegre em 2004, quando ela esteve ministrando umas palestras na Faculdade de Enfermagem. Meu obstetra é fã dela - e eu também. ;-)

Beijos

Vanessa disse...

Nao sabia que ela era antropologa medica! Vou colocar o link para o site dela no meu blog tambem! Como psiquiatra, gosto muito da antropologia e da psiquiatria cultural (que nao tive oportunidade de conhecer no Brasil, somente em Portugal). Vou estar a acompanhar o seu blog e suas postagens!
Felicidades!

Carla Beatriz disse...

Vanessa,

Sim, ela é antropóloga médica. Eu adoro os textos dela e a palestra dela que assisti foi maravilhosa!
Meu obstetra é fã dela e com toda a razão!

Um grande beijo para você!

Vanessa disse...

Ola Carla, pois no post que tinha colocado sobre o texto da Robin, escrevi um update e lhe agradecer pelo link! Assim sempre que passo por ele me lembro de ti e do seu blog!
Abracos!
http://psiquiatriaetoxicodependencia.blogspot.com/2009/11/o-parto-como-rito-de-passagem.html

Carla Beatriz disse...

Vanessa,

Puxa, obrigada pela gentileza! :-)

Beijos mil

Mamãe caprichosa disse...

OI Carla, minha xará!! Apesar de tantas cesáreas desnecessárias, me parece que as coisas estão começando a mudar um pouquinho!! Acho que algumas mães estão retrocedendo e reconhecendo que é mil vezes melhor ter um filho naturalmente do que por meio de intervenção cirúrgica!!! Quem sabe, né.... eu torço muito por isso!
Bjs
Carla