Iracema Sodre*
Na hora de ter filho, os brasileiros que vivem em Londres têm duas opções, nenhuma exatamente ideal. Podemos escolher ter o bebê no Brasil, um dos países onde mais se faz cesáreas no mundo, ou na Grã-Bretanha, onde se desencoraja a cirurgia mesmo quando a operação pouparia sofrimento.
Eu tive sorte. Meu parto, no Queen Elizabeth Hospital, em Londres, foi normal, sem anestesia (logo com muita dor), mas também sem traumas. Infelizmente, a experiência de muitas brasileiras que optam por ter seus filhos por estas bandas – ou são forçadas pelas circunstâncias - nem sempre é tão tranqüila.
Aqui mesmo, na redação da BBC Brasil, há histórias de partos complicados, que deixaram cicatrizes e memórias ruins, e que poderiam ter sido evitadas.
Entre os brasileiros, a fama do NHS, o sistema público de saúde britânico, é de que o tratamento nos hospitais é frio, as parteiras forçam a barra para que o parto seja normal e você, muitas vezes, não tem controle algum sobre o que vai acontecer.
Na minha opinião, várias das críticas são pertinentes. Só que a situação no Brasil, mesmo nos hospitais particulares, também não é essa maravilha toda, como algumas pessoas querem acreditar. Pelo menos não para quem gostaria de ter parto normal.
Várias amigas minhas, no Rio, São Paulo ou Brasília, escolheram obstetras que se diziam pró-parto normal e prometeram que fariam de tudo para evitar a cesárea, mas nunca as prepararam com dicas básicas sobre respiração, informação sobre os tipos de anestesia disponíveis e suas conseqüências, as fases do trabalho de parto etc.
E, no fim, adivinhem? Cesárea, claro. Rende mais para os médicos e anestesistas, é rápido e conveniente. Muitas vezes, as justificativas para a cirurgia (as pessoas esquecem, mas a cesárea é uma baita cirurgia) são completamente infundadas.
Então, para usar um ditado das antigas, estamos entre a cruz e a caldeirinha. Qual vocês preferem?
* Blog da BBC Brasil
Encontrei este texto há algum tempo na BBC Brasil, um site que gosto muito de ler, pois sempre tem notícias muito interessantes. Descobri os Blogs da BBC Brasil e o texto em questão.
Ele traz uma questão pertinente, que é da opção de escolha de como ter o filho em Londres. No caso, a opção é das brasileiras que vivem lá. Conheço vários casos de brasileiras vivendo no exterior e que vieram ao Brasil somente porque podiam fazer cesárea marcada. O medo, a falta de informação e todo o mito em torno do parto normal faz com quem muitas mulheres optem pela cesárea, sem ao menos ver qual seria a melhor opção para o caso dela. A cesárea é necessária em menos de 15% dos casos, segundo a Organização Mundial da Saúde. Não sou contra a cesárea, pois ela pode salvar vidas em alguns casos, mas sou contra a banalização em torno da cesárea, uma cirurgia que é escolhida como quem escolhe uma roupa em uma loja ou um prato no cardápio.
Se a mulher tem medo de ter parto normal, cabe ao médico explicar as vantagens e desvantagens de cada método. A cesárea traz muito mais desvantagens para a mãe e o bebê do que o parto normal. O mito de que a cesárea é um "parto indolor" está muito difundido na cultura brasileira e que o parto normal estraga o "parque de diversões" da mulher também.
Primeiro, a cesárea é uma cirurgia de médio porte e como toda cirurgia em si, já traz um risco. A maioria das mulheres tem a capacidade de parir de modo normal seus filhos e a cesárea deveria ser utilizada apenas nos casos em que não é possível o parto vaginal - que são muito poucos. As justificativas para a cesárea são muitos e a maioria esmagadora delas é totalmente sem fundamento, como é explicado no texto Mitos e Fatos de Ana Cristina Duarte, no site Parto do Princípio.
Segundo, o parto normal em si não estraga o "parque de diversões" (ou seja, a vagina) da mulher (ou melhor, do marido), mas sim a episiotomia, um procedimento que os médicos fazem por rotina e não por evidências científicas e quase sempre, é desnecessário. A episiotomia deveria ser feita em apenas 20% dos casos, mas ela ela é praticada em mais de 80% dos casos, mesmo depois que a Medicina Baseada em Evidências provou que, na maioria dos casos, não protege nem a mãe nem o bebê. Ao contrário, seria responsável por um número maior de infecções pós-operatórias, hemorragias e até rebaixamento da bexiga. Hoje, inclusive, há uma campanha para abolir a episiotomia de rotina. Há exercícios que a mulher pode fazer durante a gestação para proteger o períneo e assim evitar sofrer a episiotomia. Mesmo que haja laceração durante o parto, Uma laceração natural na maioria das vezes envolve um número muito menor de pontos, além de ser mais superficial que o corte cirúrgico da episiotomia.
Li relatos de partos de mulheres que diziam: "Eu sofri episiotomia no meu primeiro parto, mas não no segundo, só que o períneo rasgou ao sair o bebê. Aí eu fiquei pensando: Se não tivesse cortado antes, será que teria rasgado?"
Eu me lembro que na época de minha primeira gravidez, eu participava de uma lista de discussão feminina e eu pregava: "É melhor rasgar do que cortar". Minhas amigas me chamavam de louca e diziam: "É melhor cortar do que rasgar!". Será? Eu não sofri episiotomia em meu primeiro parto e tive laceração, que levou apenas 5 pontos (2 internos e 3 externos). A recuperação foi bem dolorida e eu sofria para sentar, além dos pontos, da crise de hemorróidas. Em uma semana, eu já estava bem, meu períneo cicatrizou bem e eu pude voltar à minha vida sexual em menos de 40 dias após o parto, porque já me sentia bem. Não tive problemas nem dores nas relações sexuais por causa dos pontos.
Tive uma conhecida que era muito jovem quando teve sua filha de parto normal tradicional, com direito a episiotomia. Ela me contou que a recuperação da episiotomia foi terrível, pois ela criou quelóide durante a cicatrização, o que dificultou em muito sua vida sexual, a ponto de provocar a sua separação do marido. Lembro dela me relatando o quanto ela sofreu por causa dessa quelóide, que arruinou sua vida sexual de casada e que fez com que tivesse ter medo de ter outro filho. Surpreendentemente, ela era favorável à episiotomia! Ela até questionou, depois de ler meu relato de parto, de que adiantava eu ter tido meu filho de parto natural, se tinha rasgado igual. Eu respondi a ela: "A questão não era não rasgar e sim não cortar." Se rasga naturalmente, a laceração será menor e de cicatrização mais fácil. Se sofrer um corte, o bisturi irá cortar pele, músculo e nervos ou até mesmo vasos sangüíneos, como foi no caso de minha amiga de infância.
Na época, ambas estávamos grávidas e eu conversei muito com ela sobre a questão da episiotomia, já que ela já tinha tido seu primeiro filho de parto normal tradicional com episiotomia. Eu disse a ela que a episiotomia não era necessária, ainda mais que ela não era primípara. Na hora do parto, ela foi atendida pela médica de plantão, que lhe disse que só fazia partos com episiotomia. Minha amiga concordou, mas o corte que foi feito nela atingiu um vaso sangüíneo grande e ela teve uma importante hemorragia durante o parto. Se não tivesse cortado, ela não teria tido essa desnecessária hemorragia, pois uma laceração natural dificilmente rasgaria um vaso sangüíneo.
No meu segundo parto, apesar da laceração do parto anterior, eu tive lacerações mínimas, que não precisaram de pontos e minha recuperação foi ótima e muito rápida. Acho que isso responde à pergunta daquela moça, que questionava: "Se não tivesse cortado, será que teria rasgado?". Eu não fui cortada no primeiro parto e no segundo não rasgou, apesar da laceração anterior. Eu não tive problemas em minha vida sexual pós-parto. Por isso, sou defensora do parto natural sem episiotomia e sem intervenções desnecessárias.
Fiquei pensando na frase da Iracema Sodré no texto dela acima, "onde se desencoraja a cirurgia mesmo quando a operação pouparia sofrimento" e me questionei: qual seria tal sofrimento? Ter um filho de parto normal é sofrimento? Sim, pode-se sentir pouca, muita ou nenhuma dor, pode-se usar anestesia para não sentir dor, mas tudo isso passa, quando o bebê nasce.
Na cesárea, ao contrário, não se sente dor no momento do nascimento, mas a dor pós-operatória pode ser bem grande, dependendo da mulher. Lembro de visitar uma conhecida após a cesárea do filho e ela não conseguia nem dobrar o corpo para atender o telefone, de tanta que era a dor. Eu pensei: "Eu não quero isso para mim!". Eu estava de pé poucas horas após o nascimento de meus filhos e sem dificuldades de locomoção. Não dependia dos outros para me trazerem o bebê para mamar ou para trocar as fraldas dele. Minha melhor amiga me contou que como ela sentia muita dor na cicatriz da cesárea, tomou o analgésico que o médico lhe receitou e não ouviu sua filha chorar à noite. Quem atendeu a neném foi a colega de quarto dela, pois viu que ela não acordava com o choro do bebê. Eu optei por não usar anestesia em meus partos e assim não tive os desagradáveis efeitos colaterais da mesma. Eu vejo que eu sofri por algumas horas durante o trabalho de parto, mas tudo passou, quando o bebê nasceu. Minhas amigas e conhecidas não sofreram nada durante o trabalho de parto, mas sofreram no pós-parto com hemorragias e dores fortes do pós-operatório. Entre as duas opções, ainda fico com a primeira. É mais natural.
Por que falei tudo isso? Pesquisando na web, descobri uma entrevista do Michel Odent em que ele relata que "Em Londres, por exemplo, os médicos tentam de tudo para evitar a cesárea: drogas, anestesia, fórceps. Mas, no final, são obrigados a fazer a cesariana. Precisamos evitar essas tentativas, porque são perigosas. O objetivo básico é redescobrir as necessidades da mulher em trabalho de parto para satisfazê-la. O resto é conseqüência." Esse é o chamado "Parto Frankestein", por causa de todas as intervenções desnecessárias e que trazem sofrimento à parturiente. Essa tampouco é uma boa opção para as mulheres que, assustadas com relatos de partos assim, acabam optando compreensivelmente pela cesárea.
É bem como a Iracema falou: as mulheres brasileiras em Londres estão entre a cruz e a caldeirinha. A boa notícia é que é possível fugir de ambas, basta pesquisar bastante, conversar com outras mulheres que tiveram parto normal sem intervenções e encontrar profissionais que acreditem na capacidade que a mulher tem para parir. É difícil? É, mas não é impossível.
Na hora de ter filho, os brasileiros que vivem em Londres têm duas opções, nenhuma exatamente ideal. Podemos escolher ter o bebê no Brasil, um dos países onde mais se faz cesáreas no mundo, ou na Grã-Bretanha, onde se desencoraja a cirurgia mesmo quando a operação pouparia sofrimento.
Eu tive sorte. Meu parto, no Queen Elizabeth Hospital, em Londres, foi normal, sem anestesia (logo com muita dor), mas também sem traumas. Infelizmente, a experiência de muitas brasileiras que optam por ter seus filhos por estas bandas – ou são forçadas pelas circunstâncias - nem sempre é tão tranqüila.
Aqui mesmo, na redação da BBC Brasil, há histórias de partos complicados, que deixaram cicatrizes e memórias ruins, e que poderiam ter sido evitadas.
Entre os brasileiros, a fama do NHS, o sistema público de saúde britânico, é de que o tratamento nos hospitais é frio, as parteiras forçam a barra para que o parto seja normal e você, muitas vezes, não tem controle algum sobre o que vai acontecer.
Na minha opinião, várias das críticas são pertinentes. Só que a situação no Brasil, mesmo nos hospitais particulares, também não é essa maravilha toda, como algumas pessoas querem acreditar. Pelo menos não para quem gostaria de ter parto normal.
Várias amigas minhas, no Rio, São Paulo ou Brasília, escolheram obstetras que se diziam pró-parto normal e prometeram que fariam de tudo para evitar a cesárea, mas nunca as prepararam com dicas básicas sobre respiração, informação sobre os tipos de anestesia disponíveis e suas conseqüências, as fases do trabalho de parto etc.
E, no fim, adivinhem? Cesárea, claro. Rende mais para os médicos e anestesistas, é rápido e conveniente. Muitas vezes, as justificativas para a cirurgia (as pessoas esquecem, mas a cesárea é uma baita cirurgia) são completamente infundadas.
Então, para usar um ditado das antigas, estamos entre a cruz e a caldeirinha. Qual vocês preferem?
* Blog da BBC Brasil
Encontrei este texto há algum tempo na BBC Brasil, um site que gosto muito de ler, pois sempre tem notícias muito interessantes. Descobri os Blogs da BBC Brasil e o texto em questão.
Ele traz uma questão pertinente, que é da opção de escolha de como ter o filho em Londres. No caso, a opção é das brasileiras que vivem lá. Conheço vários casos de brasileiras vivendo no exterior e que vieram ao Brasil somente porque podiam fazer cesárea marcada. O medo, a falta de informação e todo o mito em torno do parto normal faz com quem muitas mulheres optem pela cesárea, sem ao menos ver qual seria a melhor opção para o caso dela. A cesárea é necessária em menos de 15% dos casos, segundo a Organização Mundial da Saúde. Não sou contra a cesárea, pois ela pode salvar vidas em alguns casos, mas sou contra a banalização em torno da cesárea, uma cirurgia que é escolhida como quem escolhe uma roupa em uma loja ou um prato no cardápio.
Se a mulher tem medo de ter parto normal, cabe ao médico explicar as vantagens e desvantagens de cada método. A cesárea traz muito mais desvantagens para a mãe e o bebê do que o parto normal. O mito de que a cesárea é um "parto indolor" está muito difundido na cultura brasileira e que o parto normal estraga o "parque de diversões" da mulher também.
Primeiro, a cesárea é uma cirurgia de médio porte e como toda cirurgia em si, já traz um risco. A maioria das mulheres tem a capacidade de parir de modo normal seus filhos e a cesárea deveria ser utilizada apenas nos casos em que não é possível o parto vaginal - que são muito poucos. As justificativas para a cesárea são muitos e a maioria esmagadora delas é totalmente sem fundamento, como é explicado no texto Mitos e Fatos de Ana Cristina Duarte, no site Parto do Princípio.
Segundo, o parto normal em si não estraga o "parque de diversões" (ou seja, a vagina) da mulher (ou melhor, do marido), mas sim a episiotomia, um procedimento que os médicos fazem por rotina e não por evidências científicas e quase sempre, é desnecessário. A episiotomia deveria ser feita em apenas 20% dos casos, mas ela ela é praticada em mais de 80% dos casos, mesmo depois que a Medicina Baseada em Evidências provou que, na maioria dos casos, não protege nem a mãe nem o bebê. Ao contrário, seria responsável por um número maior de infecções pós-operatórias, hemorragias e até rebaixamento da bexiga. Hoje, inclusive, há uma campanha para abolir a episiotomia de rotina. Há exercícios que a mulher pode fazer durante a gestação para proteger o períneo e assim evitar sofrer a episiotomia. Mesmo que haja laceração durante o parto, Uma laceração natural na maioria das vezes envolve um número muito menor de pontos, além de ser mais superficial que o corte cirúrgico da episiotomia.
Li relatos de partos de mulheres que diziam: "Eu sofri episiotomia no meu primeiro parto, mas não no segundo, só que o períneo rasgou ao sair o bebê. Aí eu fiquei pensando: Se não tivesse cortado antes, será que teria rasgado?"
Eu me lembro que na época de minha primeira gravidez, eu participava de uma lista de discussão feminina e eu pregava: "É melhor rasgar do que cortar". Minhas amigas me chamavam de louca e diziam: "É melhor cortar do que rasgar!". Será? Eu não sofri episiotomia em meu primeiro parto e tive laceração, que levou apenas 5 pontos (2 internos e 3 externos). A recuperação foi bem dolorida e eu sofria para sentar, além dos pontos, da crise de hemorróidas. Em uma semana, eu já estava bem, meu períneo cicatrizou bem e eu pude voltar à minha vida sexual em menos de 40 dias após o parto, porque já me sentia bem. Não tive problemas nem dores nas relações sexuais por causa dos pontos.
Tive uma conhecida que era muito jovem quando teve sua filha de parto normal tradicional, com direito a episiotomia. Ela me contou que a recuperação da episiotomia foi terrível, pois ela criou quelóide durante a cicatrização, o que dificultou em muito sua vida sexual, a ponto de provocar a sua separação do marido. Lembro dela me relatando o quanto ela sofreu por causa dessa quelóide, que arruinou sua vida sexual de casada e que fez com que tivesse ter medo de ter outro filho. Surpreendentemente, ela era favorável à episiotomia! Ela até questionou, depois de ler meu relato de parto, de que adiantava eu ter tido meu filho de parto natural, se tinha rasgado igual. Eu respondi a ela: "A questão não era não rasgar e sim não cortar." Se rasga naturalmente, a laceração será menor e de cicatrização mais fácil. Se sofrer um corte, o bisturi irá cortar pele, músculo e nervos ou até mesmo vasos sangüíneos, como foi no caso de minha amiga de infância.
Na época, ambas estávamos grávidas e eu conversei muito com ela sobre a questão da episiotomia, já que ela já tinha tido seu primeiro filho de parto normal tradicional com episiotomia. Eu disse a ela que a episiotomia não era necessária, ainda mais que ela não era primípara. Na hora do parto, ela foi atendida pela médica de plantão, que lhe disse que só fazia partos com episiotomia. Minha amiga concordou, mas o corte que foi feito nela atingiu um vaso sangüíneo grande e ela teve uma importante hemorragia durante o parto. Se não tivesse cortado, ela não teria tido essa desnecessária hemorragia, pois uma laceração natural dificilmente rasgaria um vaso sangüíneo.
No meu segundo parto, apesar da laceração do parto anterior, eu tive lacerações mínimas, que não precisaram de pontos e minha recuperação foi ótima e muito rápida. Acho que isso responde à pergunta daquela moça, que questionava: "Se não tivesse cortado, será que teria rasgado?". Eu não fui cortada no primeiro parto e no segundo não rasgou, apesar da laceração anterior. Eu não tive problemas em minha vida sexual pós-parto. Por isso, sou defensora do parto natural sem episiotomia e sem intervenções desnecessárias.
Fiquei pensando na frase da Iracema Sodré no texto dela acima, "onde se desencoraja a cirurgia mesmo quando a operação pouparia sofrimento" e me questionei: qual seria tal sofrimento? Ter um filho de parto normal é sofrimento? Sim, pode-se sentir pouca, muita ou nenhuma dor, pode-se usar anestesia para não sentir dor, mas tudo isso passa, quando o bebê nasce.
Na cesárea, ao contrário, não se sente dor no momento do nascimento, mas a dor pós-operatória pode ser bem grande, dependendo da mulher. Lembro de visitar uma conhecida após a cesárea do filho e ela não conseguia nem dobrar o corpo para atender o telefone, de tanta que era a dor. Eu pensei: "Eu não quero isso para mim!". Eu estava de pé poucas horas após o nascimento de meus filhos e sem dificuldades de locomoção. Não dependia dos outros para me trazerem o bebê para mamar ou para trocar as fraldas dele. Minha melhor amiga me contou que como ela sentia muita dor na cicatriz da cesárea, tomou o analgésico que o médico lhe receitou e não ouviu sua filha chorar à noite. Quem atendeu a neném foi a colega de quarto dela, pois viu que ela não acordava com o choro do bebê. Eu optei por não usar anestesia em meus partos e assim não tive os desagradáveis efeitos colaterais da mesma. Eu vejo que eu sofri por algumas horas durante o trabalho de parto, mas tudo passou, quando o bebê nasceu. Minhas amigas e conhecidas não sofreram nada durante o trabalho de parto, mas sofreram no pós-parto com hemorragias e dores fortes do pós-operatório. Entre as duas opções, ainda fico com a primeira. É mais natural.
Por que falei tudo isso? Pesquisando na web, descobri uma entrevista do Michel Odent em que ele relata que "Em Londres, por exemplo, os médicos tentam de tudo para evitar a cesárea: drogas, anestesia, fórceps. Mas, no final, são obrigados a fazer a cesariana. Precisamos evitar essas tentativas, porque são perigosas. O objetivo básico é redescobrir as necessidades da mulher em trabalho de parto para satisfazê-la. O resto é conseqüência." Esse é o chamado "Parto Frankestein", por causa de todas as intervenções desnecessárias e que trazem sofrimento à parturiente. Essa tampouco é uma boa opção para as mulheres que, assustadas com relatos de partos assim, acabam optando compreensivelmente pela cesárea.
É bem como a Iracema falou: as mulheres brasileiras em Londres estão entre a cruz e a caldeirinha. A boa notícia é que é possível fugir de ambas, basta pesquisar bastante, conversar com outras mulheres que tiveram parto normal sem intervenções e encontrar profissionais que acreditem na capacidade que a mulher tem para parir. É difícil? É, mas não é impossível.
14 comentários:
Não tenho uma opinião formada sobre a forma de parto. Acho que sua preocupação com as cesareanas banalizadas são bem pertinentes, mas nunca parei para refletir sobre o assunto.
Ah, respondendo: "Sex and the city" é um dos seriados mais esclarecedores e interessantes da TV. A mulher moderna inspirou seu roteiro ou seu roteiro inspirou a mulher moderna? Eis o mistério de Tostines.
PS. Gosto e não sou gay.
Oi Surfista Platinado,
Se você pretende ter filhos, é interessante saber quais são as opções de parto para sua (futura ou atual) mulher. Um marido que apóia a mulher em suas decisões já é meio caminho andado para um parto normal bem sucedido.
Eu ADORO "Sex and The City" e sou permanentemente caçoada por meus colegas de trabalho por causa disso. Fiquei agradavelmente supresa ao descobrir um homem (que nem pensei ser gay) gostar também do seriado.
Carla, seu texto está muito bem argumentado. Parabéns. Informação é tudo, né? Se eu tivesse lido seu texto antes, não teria deixado fazerem as episiotomias em mim. Ainda bem que não tive seqüelas em relação a isso. Mas com certeza, preferiria não ter feito. No mais, sabe que concordo com tudo. Beijos. Cris.
Você é muito consciente em seus argumentos e despertou a minha curiosidade. Obrigado!
Obrigado pela visita, comentário e passeio por textos antigos. OU seja, serviço completo.
Volta sempre!
Acho que o que todos precisamos é informação, sempre. Obrigada pela grande contribuição nesse ponto!
Não tenho filhos mas um dia pretendo, e quero entender bem o que acontece com meu corpo, com meu bebê e nossas opções e riscos, para então tomar a melhor decisão.
bjs
Lívia,
É isso mesmo: tomar uma decisão com base nas informações recebidas. É isso que faz uma mulher ser empoderada.
E acredite: depois de um parto normal sem intervenções desnecessárias, você se sentirá vitoriosa. ;-)
Beijos mil
Surfista,
Gostei muito de teu blog e de teus textos. Fico feliz em saber que você gostou de meu blog, será sempre bem-vindo aqui!
Beijos
Carla, se eu tivesse lido seu texto e morasse em Londres, juro que iria ficar com medo,rsss...
Mas, graças a Deus moro no Rio e tive partos normais, costumo dizer que não há nada de normal nisso :)...
Não gosto de cesárea e só faria se não tivesse outro jeito.
PS: Homem gostar deste seriado não é difícil...
Ótima postagem!
Beijo,moça.
Mas essa é a Carla que conheco!!! ehhehe
Menina, só uma coisa: nao é o bisturi que corta, é uma tesoura mesmo!
Moro em Londres e não tenho filhos mas conheço pessoas que não tiveram boas experiências quando tiveram filhos aqui. Os medicos e enfermeiras não houvem o paciente, não fazem um acompanhamento decente e em certos casos não sabem o que estão fazendo. Eu nunca terei filhos aqui, no Brasil pode não ser perfeito mas o tratamento costuma ser melhor. Aqui o paciente não tem controle sobre nada.
Cristiana,
Infelizmente, as episiotomias de rotina ainda não uma triste realidade na obstetrícia brasileira, mas quanto mais mulheres forem informadas de sua não necessidade na maioria absoluta dos casos, pode ser que consigamos fazer com que essas taxas caiam.
Beijos
Lola,
É uma pena que essas sejam as opções que as mulheres brasileiras têm em Londres. Aqui no Brasil, as mulheres ainda têm a opção de parir seus filhos com médicos e/ou equipes humanizadas. No Rio e São Paulo ainda há as Casas de Parto, que são atendidas pelo SUS e são uma ótima opção para as mulheres de baixa renda.
Beijos
Ciça,
É, né, Ciça? Eu sempre fui ultra-mega-radical na lista Amigas do Parto/Parto Nosso e continuo sendo! ;-)
Apesar de não querer ter mais filhos, ainda sou completamente apaixonada pelos temas gestação/parto/amamentação.
Eles cortam com tesoura, é? Pensei que fosse com bisturi, já que nunca sofri uma episiotomia. Já dói só de pensar ... ui ...
Beijos mil
Patriciab,
Que pena ouvir isso! Um parto normal sem um atendimento adequado da equipe tampouco deixa boas lembranças.
Tens razão, no Brasil não é perfeito, mas ainda é possível ter o parto do jeito que queremos.
Beijos
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