Deitadas
Encostadas
Uma na outra
Qual casal de amantes
Elas tremulam e
Não se cansam de
Embalar contentes
Seu conteúdo.
“Les boteilles chantent
pendant la nuit”
Dizia Beaudelaire
Eu diria:
As garrafas
Orgulhosamente
Exibem o que lhes é caro
No aroma, no sabor
No contexto final
Do seu talento.
O vinho
Que ameniza as penas
Que rega com mansidão
A união dos amantes
Da natureza
Do amor factual
Dos sentimentos
De pureza e singeleza.
Que é, enfim,
O bálsamo que nos unge
De carinho, de amizade
De fraternidade
Salva-nos,pois. Oh vinho
Desta dúvida insana
Que nos maltrata
E atormenta.
Faze-nos vassalos
Do amor e da bondade
Afasta-nos do pavor
E da maldade
Multiplica
Nossas inteligência,
Paciência e tolerância.
Faze-nos cúmplices
Do que é simples.
Faze-nos contentes
Qual combatentes
Que imolam o mal
No fogo incadescente
Da volúpia e da vaidade.
Rubem Rodrigues (1924-2002)
* Cardiologista e Professor Titular de Medicina Interna da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Professor Titular de Cardiologia da Faculdade Católica de Medicina. Foi meu chefe na Fundação Universitária de Cardiologia no período de 1997 a 2002.
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