- E aí, Carla, falta muito para te formares?
- Ah, falta, recém estou no 5º semestre – ou então – Faltam dois anos ainda – respondia eu.
Eu olhava para frente e parecia que a formatura estava tão distante e, no entanto, já passei por ela há mais de uma década. Naquela época, eu era solteira, morava com meus pais e não trabalhava, pois estudava em uma universidade federal com seus horários malucos, que não me permitiam trabalhar. Meu noivo da época, Ricardo, me criticava muito, por eu ser somente estudante e depender de meus pais. Isso me magoava bastante, pois se meus pais não me cobravam isso, por que ele tinha que cobrar? Eu me sustentava dando aulas particulares e com as bolsas científicas que consegui. Fui bolsista da Pró-Reitoria de Extensão, fui bolsista de iniciação científica da FAPERGS e, posteriormente, bolsista de aperfeiçoamento do CNPq. Essas bolsas me permitiam fazer meu horário de acordo com as disciplinas em que estava matriculada e ainda me sobrava tempo para estudar. Além disso, ainda fui representante discente da Comissão de Carreira de meu curso. Lá, lutei para que oferecessem as disciplinas necessárias em cada semestre, de modo que fosse possível nossa formatura no final de 1993. Não foram poucas as brigas com a diretoria do curso, que não queriam oferecer uma disciplina para quatro alunos, quando poderiam aproveitar o mesmo professor em uma turma de sessenta alunos. Só que era de nossas vidas que estavam lidando e podendo atrasar a formatura em um ano ou mais. Tantas brigas e negociações valeram a pena, pois conseguimos que as disciplinas fossem oferecidas e a formatura ocorreu na data prevista.
Era engraçado ver a Diretora do meu curso tendo chiliques, quando me via, pois ela sabia que eu ia fazer alguma reivindicação.
- Nem vem, Carla! Nem vem! – gritava ela, ao cruzar comigo pelos corredores.
No dia de minha formatura, quando ela me entregou o canudo, eu cochichei no ouvido dela:
- Finalmente te livras de mim, hein?! – disse eu rindo, ao receber meu grau de Licenciada em Matemática.
Naquele dia, fomos doze formandos: seis da Licenciatura e seis do Bacharelado em Matemática Computacional – a primeira turma a se formar nesse curso. Como desisti de lecionar após três anos, perdi o contato com meus colegas de curso. Alguns anos mais tarde, eu reencontrei meu colega Áureo, o qual passou várias tardes de domingo estudando comigo, tentando decifrar os terríveis exercícios do Prof. Porto. Tínhamos filhos da mesma idade e morando no mesmo bairro. Nossos filhos se tornaram coleguinhas no maternal e nossa amizade continuou.
Em janeiro, fui ao aniversário do filho do Áureo e reencontrei vários colegas daquela época, mas que eram mais antigos do que eu no curso. Havia um deles que não reconheci a princípio, mas ele havia se formado no mesmo dia que eu! Estava casado com uma outra colega da Licenciatura. Aliás, todos esses colegas estavam casados entre si com colegas de curso, todos matemáticos e vários de nós com filhos da faixa etária.
É ... o tempo passa e as coisas mudam. Há mais de dez anos que não trabalho mais na área em que me formei, apesar de já ter sido muito apaixonada pela Matemática. Quem sabe um dia eu volto a dar aulas particulares? ;-)
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