quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Mulheres redescobrem o parto natural

O Brasil é um dos recordista de cesarianas no mundo. Enquanto a Organização Mundial da Saúde (OMS) preconiza uma taxa ideal em torno de 15% do total desse tipo de intervenção nos partos, no País, ainda de acordo com o órgão, alguns serviços privados de saúde atingem cifras de mais de 90%. Até na rede pública brasileira as cesarianas ficam entre 30 e 40%. Contudo, algumas mulheres invertem a tendência e estão preferindo o parto natural. Em Curitiba, um dos maiores defensores desse método foi o médico obstetra Moysés Paciornik, que morreu em 26/12/2008, após sofrer uma parada ardíaca ao ser submetido a uma cirurgia.


Além de defender que os bebês nasçam por intervenção cirúrgica apenas quando houverem riscos para a vida da mãe ou da própria criança, ele foi um grande divulgador dos benefícios do parto de cócoras. Nele, como o próprio nome diz, as mulheres têm seus filhos acocoradas - como fazem as integrantes de tribos indígenas - e não deitadas.“O parto normal deitado nasceu na Europa, mas não é o mais indicado à saúde da mulher, pois pode causar problemas no canal vaginal. As mulheres que passam por ele, quando estão perto da menopausa, geralmente apresentam problemas de útero e bexiga. Em contrapartida, isto não acontece com as índias, que geralmente têm dezenas de filhos sem passar por cesariana e permanecem com a saúde perfeita”, afirmou o médico durante entrevista concedida a O Estado na semana anterior ao Natal. Segundo Moysés, quando a gestante deita para ter o filho, seu canal vaginal se estreita em torno de 28%, o que dificulta a passagem do bebê e o obriga a forçar caminho para nascer.

Já no parto de cócoras, o períneo (região que, para as mulheres, começa na parte de baixo da vulva e vai até o ânus) vai para trás e a bexiga sobe, o que faz com que o canal de parto se alargue e o nascimento seja facilitado.

O parto de cócoras é menos dolorido e muito mais rápido, pois a mãe empurra a criança de maneira mais fácil. Quando comecei a divulgá-lo por aqui (no Paraná), há cerca de 30 anos, ele foi muito criticado. Porém, atualmente, está sendo cada vez mais aceito e tido seus benefícios reconhecidos”, declarou. “O parto de cócoras é muito gratificante para a mulher, pois é ela quem o realiza e não o médico. Além disso, ela vê o filho nascer, o que não acontece no parto deitado.” Em Curitiba, no hospital público Victor Ferreira do Amaral e no particular Santa Cruz, já existem mesas de parto especiais que permitem que a mulher fique em variadas posições e não apenas deitada.
Vivência
A missionária Cynthia Palumbo, de 46 anos, vivenciou tanto a experiência de ter um filho por cesariana quanto por parto normal de cócoras. Há 26 anos, devido a algumas complicações gestacionais, ela teve seu primeiro filho por procedimento cirúrgico.
Na segunda gestação, ficou decepcionada ao ouvir de um médico que, por ter tido o primeiro bebê por cesariana, não conseguiria ter o segundo de forma natural. Foi então que ela procurou Paciornik e conseguiu fazer o parto de cócoras. Posteriormente, teve outros cinco filhos por este método, sendo o último há dez anos.

“O primeiro parto de cócoras foi um pouco difícil, mas mesmo assim bem mais tranquilo do que a cesárea. A partir do segundo, foi ficando cada vez mais rápido e fácil. Além disso, a recuperação é muito mais rápida. Nos dias seguintes à cesariana, eu mal conseguia levantar em função da dor que sentia e era mais difícil fazer as coisas, inclusive cuidar do bebê.”
Artigo publicado no Paraná Online em 01/01/2009.

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