Hoje resolvi tirar o pó de meu blog, que anda bem abandonadinho, coitado, por conta de meu novo trabalho na área de suporte, que me deixa ocupadíssima o dia inteiro e sem vontade de sentar na frente do computador à noite, exceto para assistir meus seriados americanos.
Recebi um artigo pela lista do Parto do Princípio e resolvi compartilhá-lo, apesar dele já ter sido brilhantemente comentado pela Kalu, do Mamíferas. Mas como eu tive meus dois filhos de parto natural, um no hospital e a outra em casa, quis dar minha contribuição, colocando trechos do artigo aqui no blog: O parto é delas (por Luciana Benatti)
"Abuso de intervenções médicas, falta de informação e de segurança para decidir têm tirado de muitas mulheres o direito ao parto natural. A cesárea, indicada para situações de risco, ainda ocorre de forma indiscriminada no Brasil
Parto na água e sem anestesia? No país campeão mundial de cesarianas, pode parecer coisa de gente maluca. Na verdade, trata-se da escolha consciente de mulheres que, alheias ao apelo do parto “prático, rápido e indolor” prometido pelos defensores da cesárea com hora marcada, decidiram vivenciar o nascimento de seus filhos com a maior naturalidade possível. O que envolve também abrir mão de tecnologias e de intervenções médicas desnecessárias. Se a gestação for de baixo risco, o parto normal é mais seguro para a mãe e para o bebê.
Por ser uma cirurgia, a cesárea só é indicada quando há risco. De acordo com a Organização Mundial da Saúde, isso ocorre em, no máximo, 15% dos casos. No entanto, a cesariana representa 43% dos partos realizados no Brasil, considerando o setor público e o privado. No universo dos planos de saúde chega a 80%, enquanto no Sistema Único de Saúde soma 26%. Todos concordam: o procedimento, quando bem indicado, é capaz de salvar vidas. Por outro lado, se realizado sem uma indicação médica precisa, pode expor a mulher e o recém-nascido a riscos desnecessários. “
Quando você agenda uma cesariana sem que a mulher tenha entrado em trabalho de parto, pode estar retirando o bebê antes da sua completa formação”, afirma Andréia Abib, gerente-técnico assistencial de produtos da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), órgão que regula as atividades das operadoras de planos privados. “
Uma mulher bem informada jamais iria desejar isso”, acredita Andréia. Como parte de uma campanha em favor do parto normal e da redução das cesarianas desnecessárias, a agência elaborou uma carta de esclarecimento e convidou as operadoras a enviá-la às usuárias. Em maio, o Ministério da Saúde também lançou
campanha de incentivo ao parto normal, com um
comercial estrelado pela atriz Fernanda Lima, que teve seus gêmeos dessa forma.
De acordo com um estudo recente realizado por pesquisadores da Escola Nacional de Saúde Pública da Fundação Osvaldo Cruz, em duas maternidades particulares do Rio de Janeiro, 92% das cesarianas foram feitas com data e hora marcadas, antes de a mulher entrar em trabalho de parto. “É um escândalo”, critica a epidemiologista Silvana Granado Nogueira da Gama, integrante da equipe.
O mesmo estudo da Fiocruz derruba um argumento muito freqüente, o de que as próprias mulheres brasileiras desejariam o parto cesáreo: 70% das gestantes não manifestaram preferência pela cesariana no início da gravidez, mas quase 90% a fizeram. “Isso indica que há um convencimento durante o pré-natal”, afirma Lena Peres, do Departamento de Ações Estratégicas do Ministério da Saúde.
“Cesariana é uma técnica. Parto normal, uma arte”, diz o obstetra Jorge Kuhn, professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). “Muitos médicos se formam sem saber fazer parto normal”, afirma a doula e educadora perinatal Ana Cristina Duarte, coordenadora do Grupo de Apoio à Maternidade Ativa (Gama). A doula é uma acompanhante de parto treinada para oferecer suporte físico, emocional e afetivo."
Para ler o artigo completo, clique aqui. Eu tive minha filha de parto domiciliar em outubro de 2004 e mesmo quase 5 anos depois, ainda vejo muitas mulheres tendo seus filhos de cesariana, seja ela eletiva ou não. As razões são as mais variadas: cordão enrolado, bebê muito grande, pouco líquido amniótico, falta de contração, falta de dilatação, bacia estreita, cesárea prévia, etc. É uma pena que as mulheres ainda deixem de tomar o evento do parto para si e deixem que os médicos decidam por elas!
Não somos nós que tivemos nossos filhos no aconchego de nosso lar e cercadas de pessoas dando-nos apoio e carinho as loucas e irresponsáveis e sim as mães que escolhem deliberadamente uma cesárea e que se submetem a uma cirurgia para tirar um bebê imaturo (de 38 semanas ou menos) do útero*. Essas sim são as loucas e irresponsáveis.
“Quando você agenda uma cesariana sem que a mulher tenha entrado em trabalho de parto, pode estar retirando o bebê antes da sua completa formação”, afirma Andréia Abib, gerente-técnico assistencial de produtos da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), órgão que regula as atividades das operadoras de planos privados. “Uma mulher bem informada jamais iria desejar isso”, acredita Andréia.
O caminho natural é o mais óbvio: deixar a natureza seguir seu curso. Quem vai indicar que está pronto para nascer será seu bebê e é quando irá se iniciar seu trabalho de parto, que pode levar, em média, 12 horas (mas pode demorar mais, especialmente se for seu primeiro filho). O trabalho de parto é uma preparação do corpo para a expulsão do feto do útero e isso faz parte do processo de nascer. O bebê precisa fazer força para sair e encontrar a saída do útero e isso é uma metáfora para a vida: que temos, muitas vezes, fazer força para sair e encontrar nossos caminhos na vida. Tirar isso de um bebê é, no mínimo, muito egoísmo.
* Paráfrase de um trecho do post da Kalu.
Foto: Arquivo pessoal, outubro de 2004, durante meu trabalho de parto domiciliar.